quarta-feira, 23 de março de 2011

Livro: 1599 - Um ano na vida de William Shakespeare


Desde que esse livro foi lançado no Brasil eu estou de olho nele. Venho lendo várias criticas e as vezes ficava com vontade de ler e outras vezes não. Até que encontrei-o em uma livraria em SP e resolvi levar para casa.

O autor, James Shapiro, escolheu o ano de 1599 na vida do dramaturgo e poeta William Shakespeare por se tratar de um ano onde ele realizou muito profissionalmente e também estava acontecendo muita coisa ao seu redor. Em 1599, William Shakespeare estava investindo no Globe Theater e escrevendo quatro das suas peças mais famosas: Henrique V, Julio César, Como gostais e Hamlet. A Inglaterra também vivia um período nebuloso: a rebelião irlandesa estava longe de ser contida, a Armada Espanhola se aproximava de Londres e a rainha Elizabeth I, em idade avançada e sem herdeiro direto, havia transformado a própria insegurança em censura: qualquer pessoa que a maldissesse poderia ser condenada à prisão.

O livro foca muito no que estava acontecendo nesse período na Inglaterra, quais eram os livros e as peças que estavam bombando com os elisabetanos e fatos que estavam acontecendo na vida de Shakespeare e assim, o autor tenta entrar um pouco em sua vida e o que pode ter influenciado suas obras no ano de 1599.

Eu não gostei  do livro e achei a leitura bem chatinha... O livro aborda mais o que estava acontecendo no país do que propriamente com Shakespeare. O autor até "avisa", não sei se avisa seria a palavra correta, mas ele fala que a vida do dramaturgo não foi quase documentada então muitas coisas são suposições mas ainda assim, eu estava esperando mais. Também esperava ler mais sobre a vida pessoal de Shakespeare, o que é praticamente inexistente nesse livro mas não posso culpar o autor pois ele também avisa aos leitores que esse não é o objetivo. 


Segue uma entrevista que o autor do livro deu para o jornal GLOBO:

Pergunta: Logo no início de seu livro o senhor menciona a persistência da crença de que não temos muitas informações a respeito de Shakespeare, e que mesmo sua existência seria algo duvidoso. Trata-se de uma ideia falsa, não?

James Shapiro: O tipo de coisa que as pessoas querem saber sobre Shakespeare, como que tipo de marido ele era, no que ele pensava ao escrever Romeu e Julieta ou Hamlet, que sentimentos experimentou em diferentes momentos de sua vida – todas essas coisas estão de fato perdidas para nós. Não há nenhum registro delas. Em termos de sua vida profissional, no entanto, há uma quantidade enorme de informação. São dados que dizem onde ele estava, com quem colaborava, que peças escrevia em certos momentos. Isso, no entanto, não é o bastante para satisfazer as pessoas interessadas na história de um gênio literário que passa por várias turbulências para criar sua obra.

Pergunta: Quais as razões para o senhor escolher 1599 como o ano ao qual se dedicaria?

James Shapiro: Coisas muito significativas para Shakespeare aconteceram em 1599. Uma delas, talvez a principal, foi a construção do Globe Theatre. Shakespeare se tornou um dos proprietários do teatro, algo que nunca havia sido, e enriqueceu com isso. A sociedade no Globe fazia com que houvesse um enorme interesse dele em garantir o sucesso do teatro. E nesse ano então ele veio com uma série de peças extraordinárias, Henrique V, Júlio César e Como Gostais, culminando com o início da escrita de Hamlet, talvez a maior de suas peças.
 
Pergunta: O senhor calcula que algo como um terço dos habitantes de Londres assistia a pelo menos uma peça de teatro por mês. O teatro obviamente era uma fonte importante de entretenimento, mas, mais do que isso, era também um meio fundamental na construção do modo como os ingleses entendiam a vida e a si próprios. O quão diretamente os eventos da época figuravam nas peças de Shakespeare e de seus contemporâneos?

J. Shapiro: A relação entre política e criação artística era muito delicada. Os dramaturgos, mesmo populares, dependiam de alguma conexão com a corte para garantir que seus teatros não seriam fechados de repente por causa de alguma intriga. Alguns contemporâneos de Shakespeare acabaram escrevendo grandes elogios ao Rei James, sucessor da Rainha Elizabeth. Há obras de Ben Jonson que hoje são constrangedoras de se ler. Mas Ben Jonson precisava ganhar a vida... Shakespeare era muito habilidoso em tocar em questões importantes, que mexiam com sua audiência, sem que ficasse claro que posição ele estava tomando. “Macbeth” é uma história sobre um rei escocês que é assassinado, e até hoje os acadêmicos não conseguem decidir se é uma grande crítica ou um grande elogio ao Rei James. O mesmo com “Rei Lear”. O importante era que as peças de Shakespeare ajudavam seus espectadores a entender o mundo em que viviam.

Pergunta: O senhor apresenta 1599 como um momento de transição da Inglaterra tradicional para a moderna, resumido em dois eventos daquele ano: a ruína do Conde de Essex, após seu fracasso na guerra contra os irlandeses, e a fundação da Companhia das Índias Orientais. Como Shakespeare se situava entre esses dois mundos?

J. Shapiro: Em alguns sentidos, Shakespeare parece ter sido muito conservador. Ele sem dúvida se importava com o status conferido pelos títulos de nobreza, e lutou para conseguir para si mesmo e sua família uma posição social melhor. Ele viveu num momento em que a Inglaterra decidia se tornar um império colonial mundial, mandando navios para várias partes do mundo. Shakespeare simplesmente não parece interessado nisso. O dinheiro que ganha, ele investe na compra de terras em sua cidade natal, e não em alguma empreitada comercial.

Pergunta: Shakespeare foi primeiro reconhecido como poeta, o senhor nota. O teatro, na época, era ainda considerado uma forma de arte menor?

J. Shapiro: Sim. Um sinal claro disso é que quando a Bodleian Library, em Oxford, começa a expandir seu acervo no século XVII, a instrução é recolher todo tipo de livro, menos coisas como peças de teatro e outras publicações “desimportantes”. As pessoas não pensavam no teatro como algo com valor literário. Era como as histórias em quadrinho são hoje. Muitas das peças da época de Shakespeare se perderam, e se não fosse pelos esforços de dois atores colegas seus, pelo menos metade das peças do próprio Shakespeare não teriam chegado a nós, entre elas “Macbeth”, “A tempestade” e “Júlio César”.

Pergunta: Seu livro mais recente, “Contested Will” (trocadilho com “Will disputado” e “Testamento disputado”), discute as teorias de que Shakespeare não seria o verdadeiro autor das peças de Shakespeare. Como o senhor vê essa discussão?

J. Shapiro: Ela diz muito mais a respeito de nós do que de Shakespeare. Pesquisando, descobri que essa ideia só aparece em 1850. Está diretamente ligada aos românticos alemães e à concepção romântica da obra de arte como expressão de experiências do artista. Daí a crença de que as peças de Shakespeare deveriam ter sido escritas por um nobre, não por um rapaz de uma cidadezinha qualquer. O problema é que há dez mil personagens nas peças de Shakespeare. Querer lê-las como autobiografia de alguém é como olhar para o céu e montar a constelação que você quiser

segunda-feira, 21 de março de 2011

Livro: Some Girls - My Life in a Harem


Confesso que andei um pouco sumida mas olhando pelo lado bom, agora que voltei, vou escrever sobre os ultimos três livro que li. O primeiro foi "Some Girls - My Life in a Harem" ("Algumas Meninas: Minha Vida em um Harém", sem previsão de lançamento no Brasil) da Jillian Lauren. Comprei esse livro no aeroporto de Miami pois já tinha acabado de ler o livro que levei para viagem e queria ler algo leve e despretensioso.

Esse livro conta a história real de uma menina  de 18 anos de classe média chamada Jillian Lauren que mora em NY e por intermédio de uma amiga, acaba indo para Brunei para participar durante duas semanas de festas organizadas pelo príncipe Jefri Bolkiah (irmão do Sultão de Brunei e na época, um dos homens mais ricos do mundo) em troca de US$20 mil. Lá ela se junta ao harém de 40 mulheres do príncipe.

A autora acabou se apaixonando pelo príncipe e ficou um ano no harém entre idas e vindas a NY. Dezenove anos depois, Jillian reuniu toda as histórias dessa experiência no livro "Some Girls". Enfim é uma leitura fácil e rápida.

Abaixo segue trechos do livro e de uma entrevista que ela deu à revista Marie Claire no ano passado.

LUXO, PODER E OSTENTAÇÃO:

"Pude perceber a importância da família real de Brunei logo que pisei no aeroporto. Havia um pôster enorme do sultão do país, Haji Hassanal Bolkiah Mu’izzadin Waddaulah, irmão do príncipe Jefri, a quem serviríamos. Dois homens usando gravatas e óculos escuros foram nos receber. Eram agentes do serviço secreto. Entramos dentro de um Mercedes-Benz preto com janelas fumê. Não disseram para onde iríamos. Depois de 20 minutos de estrada, chegamos a um complexo envolvido por enormes paredes brancas.

Quando um soldado abriu o portão, vi que o complexo parecia um parque temático infantil, inspirado nas histórias de Aladim. Em volta de um enorme palácio dourado, hectares de grama verde, uma piscina azul-turquesa reluzente e quadras de tênis. Havia também oito casas de hóspedes construídas em semicírculo. Nós, as americanas, ficaríamos hospedadas em uma delas. Parecia um set de filmagem nos anos 30."

AS FESTAS DO HARÉM:

"Logo na minha primeira noite em Brunei teve festa. Na verdade, toda noite era noite de festa. Coloquei meu vestido mais caro e fui com as meninas para o palácio ansiosa para impressionar. Fomos até um salão onde havia várias mulheres bonitas deitadas em divãs: tailandesas, filipinas e indonésias. Outras cantavam em um microfone de olhos fechados. Eram umas 40 no total. No fundo, havia uma pista de dança com um globo espelhado. Um DJ comandava o som. Logo que entramos, percebi que as meninas comentavam sobre nós.

Ari começou a nos explicar que as mulheres eram proibidas de falar com os homens da festa — o príncipe e seus amigos —, a menos que eles falassem com elas. Não deveriam mostrar as solas de seus sapatos (uma ofensa em países muçulmanos) nem manter a cabeça mais alta do que a do príncipe. Se passássemos na frente dele, deveríamos fazer reverência. Não era preciso dizer que tudo o que acontecia ali era confidencial.

As festas eram todas parecidas. As mulheres chegavam primeiro, depois os homens e, por último, o príncipe. No começo da noite, homens e mulheres conversavam normalmente enquanto bebiam. A certa altura, a luz diminuía. Eles se sentavam em sofás e as mulheres se reuniam na pista de dança e requebravam para eles assistirem. Duravam até de madrugada e só acabavam alguns minutos depois de o príncipe deixar o salão. Quando os organizadores se certificavam de que ele não voltaria, acendiam as luzes e desligavam o som. Até os homens pareciam exaustos no fim da noite. Ali, não havia sexo."

A PAIXÃO PELO PRÍNCIPE

"Logo na minha primeira festa, senti que o príncipe estava chegando antes de ele entrar na sala. As pessoas ficavam tensas com sua chegada. Ele vestia short, jaqueta e carregava uma raquete de squash. Quando apareceu, todas as garotas se viraram para ele. Era um homem bonito, apesar do cabelo espetado e de um bigodinho fino. Era forte, tinha músculos bem desenhados e cheirava a perfume caro. Era charmoso, dinâmico e enigmático. Atrás dele, dez homens igualmente devotos faziam a guarda.

Assim que nos viu no salão, o príncipe veio em nossa direção. Cumprimentou Ari, que nos apresentou. Ele não olhou para mim durante quase toda a noite. Tentei chamar a atenção, dançando no campo de visão dele. Estava entediada, achando aquilo chato, até o momento em que percebi que ele me olhava na pista. Ruborizei e senti uma corrente nervosa percorrendo meu corpo. Me senti importante, desejada. A festa estava no final.

Ele me ignorou por uma semana. Até a noite em que segurou meu braço enquanto eu caminhava. Quando parei e olhei para ele, fiz a reverência. Depois, ele colocou minha mão entre as dele, olhou para os meus olhos e disse: “Linda”. Em tese, aquele toque, aquele sinal de aprovação, não deveria significar nada para mim. Mas a lavagem cerebral deve ter surtido efeito e eu fiquei atônita. Embora me esforçasse para lembrar que era uma prostituta ali, acabei me apaixonando por ele."

Curiosidade: Hoje Jillian está casada com o baterista da banda americana Weezer e tem um filho adotivo. Mais informações: http://www.jillianlauren.com/